nada te digo que não seja verdade. quero que saibas que tenho frio. tu bem sabes que é difícil ter frio mas estou deitado, sozinho, abandonado nesta insónia. o barulho da chuva prende-te no meu pensamento. confunde-me a tua ausência física e a metamorfose a que te constantemente te confinas. é tarde em Macau e, de soslaio, a hora que passa não me deixa dormir. estás em mim como estas gotas que tilintam nos telhados e ali ficam, perdidas no algeroz deste prédio velho onde moro. a cidade apresenta-se despida, sem nada que a mantenha de pé. triste, negra, molhada. Inibida de nós, subtraída dos demais. é tarde, muito tarde, em Macau. neste cantinho vesti-me de duende e escolhi o sono que teima em chegar a esta floresta húmida e fria. prendes-me! fico tão agarrado a mim que não consigo escorrer-me por dentro. que a chuva me limpe, enfim, sem te levar não muito longe. quero apenas dormir. até amanhã
Macau, 14 de Fevereiro de 2011