Está ali uma mosca,
Parece-me imóvel na merda da parede
Como os porcos no pardieiro do poder.
Nada fazem, ali parados, os cabrões.
Só sabem subtrair aos outros
O pouco que estes têm.
Lembram hienas a devorarem a carne e os ossos
Deste povo ignóbil e sereno.
Cada vez mais tenho certo
Que a praga deste mundo somos nós.
Animais racionais de fraca rês.
Uns mais que os outros, confirmo.
Mas aquela mosca intriga-me.
Está no mesmo sítio desde
A mesma hora que a vi,
Agarrada como um sanguessuga
À pele do ser menor.
Lembro-me que podia ser melhor
O dever das nossas gentes,
Mas virando à esquerda ou à direita,
A porcaria é sempre a mesma,
Putrefacta e mal-cheirosa.
Por falar nisso, a mosca voou...
23 de Junho de 2009